Se o leitor sair às ruas perguntando qual o maior problema percebido pelo cidadão de uma grande cidade a segurança certamente será um dos primeiros.
E qual a base de sustentação do chamado "crime organizado"? Certamente o tráfico de drogas é uma das principais fontes de financiamento do arsenal utilizado pelas quadrilhas e facções criminosas.
Este dinheiro, algo em torno de 300 bilhões de dólares anuais no mundo todo financia muito mais que armas. Financia a corrupção da polícia e do judiciário.
Além disso gera uma remuneração que atrai às suas fileiras um exército de adolescentes e crianças que, seduzidos com a perspectiva de ganhar em 1 dia o que um office-boy ou um aprendiz leva 1 mês para ganhar, expõem-se a todo tipo de violência, tanto dos traficantes como da polícia.
Sou economista, portanto a lei da oferta e demanda está embutida em todo raciocínio que faço. É a demanda que determina a oferta, ou seja, sem um mercado consumidor não há incentivo à oferta. Porém, na presença da demanda a oferta aparece e é tão mais forte quanto maior o preço.
O modelo de política de combate ao tráfico que se tenta implementar no Brasil é baseado nas políticas dos EUA ou seja, reprimir a oferta. Esta insistência faz com que a demanda continue a mesma e o preço aumente, incentivando a entrada de novos produtores e fortalecendo o poder econômico dos cartéis.
A tentativa dos EUA de proibir a bebida não funcionou e deu poder adicional à máfia, colocando o cidadão comum, que tomava seus tragos clandestinamente na condição de criminoso.
Qualquer modelo que se baseie na redução da oferta está fadado ao fracasso. Enquanto isso nossos jovens estão morrendo e nossas cadeias entupidas de pequenos traficantes.
No entanto é possível entrar em qualquer boteco e tomar umas doses de cachaça por 50 centavos. Isso não é crime apesar do álcool ser a principal causa de doenças relacionadas a dependência química e acidentes de trânsito. É uma discussão filosófica? É. Mas já passou da hora de discutirmos isso com mais seriedade.
Quem não quer a legalização? A classe média. A mesma classe média cujos filhos vão às "bocadas" na madrugada ou utilizam os disk-drogas que todos nós sabemos existir. E as famílias quatrocentonas, com suas fortunas construídas pelo extermínio de índios e exploração da escravidão se chocam com a idéia de uma farmácia vender cocaína. Ora, façam-me o favor!
A liberação da cocaína levaria a um aumento de consumo? Inicialmente sim.
Mas imaginemos que as enormes cifras aplicadas na repressão ao tráfico sejam aplicadas em educação e tratamento.
Que a cada intervalo comercial de um desenho na tv uma campanha ampla de conscientização da petizada fosse colocada em prática.
Que as escolas tivessem uma matéria específica para o assunto.
Que cada bala, chiclete ou chocolate contivesse uma mensagem forte de desestímulo ao consumo de drogas e álcool.
Que em cada escola houvesse um profissional preparado para lidar com o problema e clínicas de recuperação gratuitas a disposição das comunidades.
O que aconteceria em 10 ou 15 anos? O consumo baixaria significativamente. Isso já foi provado com o cigarro. O custo não seria baixo mas com certeza o número de mortos em ambos os lados seria menor.
Chega de hipocrisia senhoras e senhores. Este sim é um vício devastador.
quarta-feira, 16 de janeiro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Olhaaaa... bem radical isso ai né? Ninguém teve coragem de comentar.
Postar um comentário