quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Roupa suja se lava na TV

O caro leitor que assiste TV aberta com certeza já teve a oportunidade de assistir alguns "talk shows" onde pessoas comuns vão buscar a solução de seus conflitos pessoais e familiares em frente as câmeras e platéias.

São pessoas desesperadas, com a situação familiar ou pessoal em frangalhos , cheias de mágoas e raiva. Vítimas fáceis para a falta de escrúpulos das produções.

Assuntos particulares e delicados são expostos em sessões de "terapia" coletiva ou individual em frente a platéias que, não raro, ofendem os participantes ou os incitam à agressões.

Mães desesperadas pelo comportamento de suas filhas. Esposas desvalorizadas por seus maridos. Casos de infidelidade conjugal de todos os tipos expostos à execração pública como um apedrejar virtual dos "pecadores".

Tudo isso para divertir a turba, que assiste o show com sangue nos olhos. Seguros de que têm alguém para condenar. No que isso difere da Roma antiga e dos castigos públicos praticados pelo extremistas religiosos? Afora a morte certa no final o espetáculo é o mesmo.

Os apresentadores exploram este sentimento de curiosidade com a desgraça da pior forma possível. Como repórteres que exibem as fotos de sangue e cadáveres. Não respeitam o desespero dessas famílias e ainda classificam este absurdo como "utilidade pública".

Vivemos em um país marcado pelas desigualdade social. Alguém alguma vez viu uma pessoa com um nível razoável de educação recorrer a um recurso como este? É óbvio que não.

Estes procuram os consultórios de terapeutas ou psquiatras para resolver seus conflitos. É um trabalho difícil, via de regra demorado, que exige uma mudança de comportamento e percepção só alcançada a partir de um entendimento de seus medos, conflitos e frustrações. Algum leitor encara essa? Só os fortes e destemidos.

Pregar que conflitos deste tipo podem ser resolvidos em uma sessão pública de humilhação é no mínimo propaganda enganosa. Quando não uma afronta a inteligência das pessoas.

A TV brasileira passa hoje por uma fase de profundas mudanças tecnológicas. A internet tornou possível a produção e exibição de uma infinidade de conteúdos. Para todos os gostos. Está em curso uma democratização dessa mídia. No entanto as grandes emissoras abertas ainda detêm o monopólio sobre o que o povo brasileiro, em sua grande maioria, assiste.

Não prego a censura pelo estado. Voltar aos tempos da ditadura sequer passa pela minha cabeça. Foram tempos muito difíceis. Mas é preciso lutar contra este tipo de imprensa.

Enquanto isso a roupa suja pública é lavada a seco. Bem no escurinho pra não desbotar. As manchas desaparecem mas o fedor continua. Como diria seu Antônio: O gambá perde o pelo mas não perde o cheiro.

Não são casos de família senhoras e senhores. É caso de polícia.

3 comentários:

Anônimo disse...

Curioso é como a televisão não muda muito de um país para outro. Boa parte dos programas da TV brasileira tem modelo importado de sucessos consagrados em outros países, desde o velho show de calouros (gong show), até o Big Brother.

Aqui em Montreal, o telespectador pode escolher se vai ver uma "Marcia" no canal francofonico, no canal anglofonico ou no canal dos Estados Unidos. Com certeza tem algumas diferenças culturais nos problemas dos participantes, e no jeito que o "barraco" acontece. Mas gente comum é gente comum em qualquer lugar.

Num momento em que há uma crise política e econômica séria e eleições nos EUA, só o que se vê e se fala de notícia é o "baby bump" da Nicole Kidman, e a última besteira da Britney Spears.

O mundo ocidental inteiro é romano. :-)

Unknown disse...

Pois é meu cara "Energy", é o sensacionalismo generalizado !!

E quando Hugo Chaves não renova a concessão de um canal de tv, muito parecido com os canais de tv aberta no Brasil, ele é chamado de ditador, inimigo da democracia ...

Agora eu lhe pergunto: se o governo brasileiro não renovar a concessão de um destes canais de tv, qual será a reação do povo brasileiro???

Abraços !!

Marcia disse...

oi querido!
é... há muitos anos venho me debatendo com o que meus alunos (e seus familiares) assistem! Sugerir outras coisas, discutir os valores ou tentar censurar faz pouco efeito... resta chorar, ou aceitar que o mundo de parte das pessoas é esse mesmo e só esse tipo de assunto lhes causa interesse!
É claro que não perco a esperança e continuarei tentando (no meu trabalho de formiguinha - e cigarra às vezes) despertar a procura por temas mais "elevados"!
Bjs