quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Política e Polititica II

O querido leitor que passar pelo site do UOL será agraciado por mais uma pérola da falta do que fazer de nossos políticos. Dessa vez o Rio de Janeiro é que teve que ver seus sagrados recursos gastos com um inútil projeto de lei do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP).

Ele propõe que o símbolo do BOPE seja transformado em patrimônio cultural do RJ. Fico abismado com o fato de que ninguém, antes do sucesso do filme, tivesse atentado para um assunto dessa relevância.

Talvez devêssemos colocá-lo na bandeira do RJ. Ou propor que a Rocinha ou o Morro do Alemão sejam uma das maravilhas modernas ao invés do Cristo Redentor. Ai meus sais.

O filme mostra o tempo todo o quanto o aparelho repressor criado por um estado que se perverteu. São duas facções rivais dentro da própria polícia. Uma que se deixou corromper completamente pelo crime organizado a outra que se deixou ofuscar pelo poder de vida e morte, colocando-se acima dos direitos e rasgando a constituição como se nada fosse.

As cenas em que os integrantes do BOPE torturam e assassinam despertam na maioria das pessoas, principalmente aquelas que foram alvo da violência do crime, uma sensação de vingança, sentimento perigoso quando se trata de uma instituição do estado.

O BOPE e seus similares distribuídos pelo país são um efeito perverso da ausência de políticas sociais eficazes e ininterruptas. A violência gerada nos guetos atinge índices tão alarmantes que não basta mais a polícia comum. É preciso treiná-la em técnicas de guerrilha urbana. Ou seja, o BOPE existe porque estamos em guerra.

Não estou defendendo aqui o crime organizado. Nem assassinos de qualquer natureza. Acho até que o BOPE merece homenagens pela bravura em combate (é guerra, lembram?). Mas daí a transformar o símbolo do BOPE em patrimônio cultural do Rio de Janeiro única e exclusivamente por motivos eleitoreiros é zombar da inteligência dos fluminenses.

O estado do Rio de Janeiro foi transformado ao longo das últimas décadas em um símbolo da concentração de renda no Brasil. A capital foi mergulhada no caos pela falta de atenção de seus governantes e pelo histórico populista de seus prefeitos e governadores.

Que o povo fluminense rechace estas lorotas e se volte para consertar os erros do passado. Que recuperem a dignidade de milhões de cidadãos que a perderam junto com seus filhos, pais e irmãos. Que eles tenham sucesso nessa empreitada, pois a alternativa, senhoras e senhores, são os tristes tempos em que só há heróis de guerra para elogiar.

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