quinta-feira, 13 de junho de 2013

O custo de um transporte democrático.

Não aguentei. Tive que fabricar novamente.  O impacto da evolução dos meios de comunicação e as redes sociais finalmente começa a se traduzir em um canal poderoso de organização da sociedade em torno de assuntos relevantes, tirando as pessoas do mundo virtual e empurrando-as para o  mundo real.

Mas sejamos francos. A idéia de tarifa zero é uma adorável inocência. Vivemos em um sistema onde o investimento só acontece se houver retorno. Contrariar essa lógica no campo das idéias é uma coisa. Buscar a solução via radicalização sem fundamentação econômica ou, para ser mais direto, lógica, é gastar velas ruins com um defunto muito do merecedor.

Não há como manter um sistema de transporte para a sexta cidade mais populosa do mundo, com mais de 11 milhões de habitantes sem remuneração. Quem defende uma proposta assim ou desconhece ou ignora os princípios mais básicos do funcionamento da economia.

A discussão em função do preço da tarifa precisa levar em conta muito mais. Precisamos de uma revolução no transporte.

Um ônibus circulando em um percurso Santana - Aeroporto, com trânsito livre, semáforos inteligentes dando prioridade ao ônibus, cruzamentos fechados para carros de passeio em horários de maior movimento, paradas modernas e cobrança exclusiva via bilhete único levaria talvez 30 ou 40 minutos.

O mesmo percurso hoje, em meio ao mar de veículos particulares, pontos mal posicionados ou construídos e prioridade absoluta ao transporte individual leva uma ou duas encarnações. O custo pessoal desse tempo e o custo agregado para a sociedade só são desprezíveis para quem não submete a eles.

Qual o impacto disso no custo da operação? Deixo aos meus amigos engenheiros o cálculo do consumo adicional de combustível para um motor padrão. Sem medo de errar.  É grande.

Pessoas que precisam se deslocar de um lado a outro da cidade fazem jornadas que frequentemente superam 3 horas. Esta semana divulgaram a criação de faixas exclusivas nas marginais! Após tantos anos de reformas e ampliações o poder público e os engenheiros de tráfego tiveram uma súbita iluminação: Precisamos fazer os ônibus circularem com prioridade na VIA MAIS IMPORTANTE DA CIDADE! Estou pasmo!

O atual modelo privilegia o automóvel. Isso tira do sistema um volume imenso de usuários e os empurra  para as ruas. O sistema fica mais lento, mais caro e o serviço cada vez pior. Como o espaço aberto já está tomado por carros só sobra construir embaixo da superfície. Mas esta solução é muito mais cara. Com a capacidade de investimento limitada o sistema colapsa. Basta ver o mar de pessoas nas novas estações.

As balas de borracha, as bombas de gás, os cassettes as pedras e os coquetéis molotov não dizem respeito aos R$ 0.30. Dizem respeito ao tempo das pessoas que dependem do transporte público e ao conforto subsidiado pela apropriação de uma parcela indecente do investimento público.

Diz respeito a falta de ousadia de uma prefeitura que veio prometendo mudanças e compromisso com o trabalhador. E não propôs absolutamente nada de novo. E se limita a argumentar que não aumentou o preço tanto quanto devia.

Diz respeito a um governo estadual que não propõe ações coordenadas para o problema. Sim, é um problema do estado. Vivemos em uma gigantesca região metropolitana, fundamental para o estado e o país. Não existe problema na capital que não seja um problema do governo do estado.

E quando o protesto acontece, bota a polícia para garantir o direito de ir e vir das pessoas. Quais pessoas cara pálida?


terça-feira, 16 de agosto de 2011

Alianças, governabilidade e ética.

O amigo leitor não se engane. As denúncias fizeram efeito. O PR enfim capitulou e colocou os cargos que tem no governo a disposição da Presidente Dilma. Jura que não haverá represálias e que pensa no bem do País.

A onda de denúncias já começa a resvalar no Presidente do Senado que se apressou em dizer que a responsabilidade pela indicação cabe a bancada do partido.

Pudemos ver nos últimos dias que para os integrantes destas quadrilhas a métrica é simples: Multiplica por três que é para o governo. Na cabeça destes senhos o governo é uma entidade separada da realidade nacional Eles não estão tirando das vítimas de estradas mal conservadas. Nem dos milhares de brasileiros que se beneficiariam com treinamento e capacitação para incrementar o turismo. Eles tiram do governo.

Desde a eleição de Fernando Collor observa-se a dificuldade que o executivo tem para aprovar seus projetos junto a base aliada. A moeda de troca: Cargos. O que representa poder sobre orçamentos milionários. A unidade que nivela isso tudo é a mesma. O dinheiro do contribuinte.

Essa é a tal governabilidade. Em um país onde a política fosse coisa de gente séria. Onde de fato os cidadãos tomassem conta do que o governo faz, esta troca se daria pelo reconhecimento do bom trabalho executado. De projetos consistentes e resultados. No Brasil as alianças não se formam por conta de afinidades ideológicas ou programas de governo convergentes. As alianças são feitas e desfeitas levando-se em consideração apenas o retorno financeiro e as possibilidades de lesar o erário.

E a única força capaz de agir na contramão deste movimento é a Imprensa Livre. As denúncias feitas pelos jornais em São Paulo não deram à presidente outra escolha senão demitir os ministros e iniciar as apurações.

Ficam as seguintes perguntas:

Se a imprensa não tivesse noticiado estes senhores ficariam anos a sugar o dinheiro pago pelo trabalhador e pelo empresário. Existem outros, com certeza. O que será feito para coibir isso de forma definitiva?

Com a saída dos quadros atuais estes postos serão cobertos por quem?

Há anos a imprensa noticia as obras inacabadas e as estradas em frangalhos. Há anos o turismo está as moscas. Sem projetos importantes em um país que poderia ser, sem sombra de dúvidas, o principal destino de turistas no mundo todo. Porque só agora, quando o quadro de instabilidade política começou a ferver por conta do endurecimento do jogo político?

As respostas são simples, senhoras e senhores. 2014. Até lá o que veremos é a imprensa vendendo anúncios enquanto o país espera mais uma carnificina pelo poder






segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Motos, Carros e espaço público.


Olá Amigo Leitor. A Fábrica reabriu. Após dois anos de silêncio eu achei que estava mais do que na hora de voltar a publicar o blog.


Muito tempo se passou e muita coisa mudou neste tempo. Afora, claro, a chegada iminente de Miranda, minha sexta filha há o fato de que me tornei neste período um feliz usuário de motocicleta. O que me chamou a atenção para alguns aspectos interessantes sobre a dinâmica do trânsito na cidade e as soluções encontradas pela CET para tornar a convivência com as motos mais pacífica.


A motocicleta, no entanto, ainda não foi inserida no sistema de transporte.


Em primeiro lugar quero deixar claro que antes de ser motociclista eu fazia parte do imenso contigente de motoristas que não suportam o "bi-bi-bi"nos corredores da cidade. É fato. Irrita mesmo.

Ao usar a moto para trabalhar, andando por toda a cidade, percebi que esta atitude é uma questão de sobrevivência para o motociclista. Na verdade isso é feito para avisar na maioria dos casos (Tanto o motorista quanto os pedestres e ambulantes que circulam entre os carros).

Em segundo lugar quero deixar clara a minha impressão sobre a polêmica do "corredor". As motos devem ou não devem circular nos corredores? Pensemos:

Em caso de uma colisão traseira, mesmo uma pequena pancada que seria inofensiva no caso dos carros, a moto sofre muito. O Motociclista vai ao chão e adeus motocicleta. E isso é muito comum no dia a dia de quem anda de carro pela cidade. Portanto, andar no corredor é mais seguro para o motociclista.

O corredor é o que permite que a moto ande mesmo quando o trânsito está parado. Excluir esta possibilidade é excluir a principal vantagem da moto. Ela sofre menos os efeitos dos congestionamentos. Ao proibir a moto de andar nos corredores o efeito imediato será o de colocar mais carros em um sistema de transporte já saturado para esta modalidade.

A distância de parada de uma moto é diferente da de um carro. Se for obrigado a frear a moto de forma brusca o resultado é quase sempre uma queda. É inevitável que isso aconteça ao se transitar no mesmo espaço que os carros.

Eu imagino que a proibição seja, no mínimo, inviável. Para não dizer que é de pouco bom senso.

O problema é que acidentes com motos são 1/3 do total de acidentes fatais em são Paulo.

As soluções encontradas até agora foram todas baseadas na estratégia de excluir a moto. Me explico:

Ao detectar que as Marginais eram um foco importante de acidentes com motos a CET não teve dúvidas: Excluiu as motos das pistas expressas. Ao detectar que algumas das avenidas eram focos de acidentes criou uma faixa exclusiva para as motos. Em duas avenidas ! E no restante da cidade? Nada.

Nenhuma sinalização específica alertando o motorista sobre o trânsito das motos nos corredores. Nenhum sinal luminoso alertando para a presença das motos. Nenhuma campanha publicitária alertando para as condutas de segurança ao mudar de faixa.

Esta falta de reconhecimento é real. Pouquíssimos radares são capazes de multar o excesso de velocidade ou o avanço de um sinal em duas rodas.

Como resultado disso temos um espaço que não é de ninguém e é de todos ao mesmo tempo. Os motoristas se sentem afrontados ao tentar trocar de faixa e o motociclista tenta se defender como pode, afinal ele está mais exposto em caso de colisão. O resultado só pode ser um: Retrovisores quebrados, confusões e morte, como vimos recentemente.

Claro que há excessos por parte dos motociclistas. Claro que há pessoas que abusam da sorte ao conduzir suas motos de forma irresponsável. Mas estes, como no caso dos motoristas, são exceção. A maioria obedece os limites de velocidade. Para nos semáforos e procura dirigir com segurança.

Segundo o UOL a frota de motos corresponde a 12, 7% da frota de carros em São Paulo. O que significa que se as pessoas que andam de moto resolvessem sair de carro o trânsito já caótico da cidade se tornaria impraticável.

O motociclista, ao abrir mão do carro, sujeita-se a um risco maior de acidente. Abre mão do conforto do ar condicionado em dias quentes (capacete é um inferno!) e topa a parada de enfrentar o frio e a chuva para chegar mais rápido. E fazendo isso tira um carro de circulação.

A sua pizza chega quentinha em casa. Seu almoço chega quente no trabalho. Aquele documento urgente é entregue em mão em minutos. Coleta de exames, entrega de remédios, socorro de seguradora, correios... São inúmeras as atividades que, em uma cidade com as dimensões de São Paulo, só são possíveis se feitas de moto.

O que precisamos fazer, amigo leitor, é cobrar da CET soluções que inibam os abusos dos motociclistas irresponsáveis e alertem o motorista sobre como conviver com a moto. Faixas que o alertem quando está "fechando"o corredor por exemplo seriam um meio de ajudar.

Muitos acidentes e confusões seriam evitados se o motorista fosse alertado que está estreitando desnecessariamente o espaço de circulação das motos. Avisos luminosos nas avenidas de grande circulação. Placas alertando o motorista sobre a importância de se certificar que não há motos no corredor. Que não abra sua porta nos congestionamentos sem olhar antes, etc.

A questão, Senhoras e Senhores, é que os nossos engenheiros de trânsito são em sua maioria usuários de carro. E são os mesmos que priorizam este transporte em detrimento de todos os outros. Incluindo aí o público


http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2011/04/05/motos-sao-13-dos-veiculos-de-sao-paulo-e-exigem-mudancas-de-atitude-no-transito.jhtm

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Propaganda Embutida

O Amigo Leitor que é usuário do Metrô ou da CPTM deve ter sido presenteado nos últimos dias com um "Mapa do Transporte Metropolitano", um folheto de 40 x 26 cm, dobrado para caber mais facilmente no bolso. Um mimo do governo do estado para os já cansados usuários do sistema de transporte sobre trilhos da capital.

Mas quando se abre o mapa o que encontramos? Mais de 50% do mapa traz informações sobre o plano de expansão! Exalta os feitos do governo e promete novos trens. De mapa mesmo só aquele que mostra as linhas de trem e metrô, presente em todas as estações e que não resolve absolutamente nada para quem não conhece a cidade! Horários de trens? Nem pensar! Linhas de ônibus? Nenhuma. Corredores? Nada. Pura propaganda.

A falta de respeito com o usuário agora afronta a nossa inteligência. O Governo do estado gasta dinheiro para fazer propaganda embutida onde conseguir! Mas o metrô continua cheio, os trens continuam em condições precárias e o transporte sobre roda está entregue as máfias de costume. A propaganda no entanto promete até 2010 uma revolução no transporte.

A falta de princípios no trato do dinheiro público não conhece limites. Menos propaganda e mais ações concretas. Isso sim, Senhoras e Senhores, seria uma revolução.



sexta-feira, 5 de junho de 2009

Política Intransitável

Tenho certeza de que o Amigo Leitor que é paulistano ou conhece a capital é profundo conhecedor dos incômodos que traz o trânsito de São Paulo àqueles que vivem na cidade. Só quem já enfrentou congestionamentos de 200 Km sabe o quanto é difícil, cansativo e desgastante a rotina do Paulistano.

Em pesquisas realizadas sobre qual seria a solução para o trânsito de São Paulo o metrô aparece sempre como a melhor alternativa. O plano do governo de São Paulo de dar qualidade de metrô às linhas dos trens metropolitanos é um indício de que esta percepção começa a encontrar os ouvidos dos que desenvolvem as políticas de transporte para a região metropolitana de São Paulo. Mas algo ainda continua a não fazer sentido.


Eu me lembro que alguns anos atrás, quando o Maluf ainda era candidato que preocupava os concorrentes, essa obra de duplicação das marginais do Rio Tietê era chamada de "Faraônica" pelos candidatos que concorriam as eleições. Que a solução estava no transporte público de qualidade e não na expansão da malha viária. Algo mudou radicalmente nestas posições.


Quem usa o sistema de transporte coletivo em São Paulo enfrenta ônibus desconfortáveis, com grandes intervalos e sem horários definidos. Sem contar os condutores que parecem treinados em um Rally Paris-Dakar, dirigindo de forma agressiva e brusca, trazendo ainda mais desconforto para o usuário. O Metrô continua cheio demais e o transporte alternativo continua nas mãos de máfias e cooperativas sem um mínimo de critério para contratar os condutores e sem fiscalização adequada.


Neste contexto cabe a nós questionar o governo estadual: Qual a justificativa para gastar 1,3 bilhões par aumentar uma via como a Marginal Tietê que, em função do crescimento vegetativo da frota de carros, estará completamente congestionada em 10 anos? O que isso resolve?


Uma das obras mais importantes em andamento para desafogar o trânsito de São Paulo é o Rodoanel. Continuamos aguardando o seu término após mais de 10 anos. Ainda não terminamos e vamos duplicar a Marginal? Não me parece fazer muito sentido.


A solução dos problemas de locomoção em São Paulo passa por uma mudança de paradigma na elaboração das políticas de transporte coletivo. Ou se toma de vez a decisão de concentrar os esforços em tirar os carros das ruas ou em alguns anos não haverá investimento público capaz de dar conta da expansão da frota.


Há 1 ano atrás eu escrevi neste mesmo espaço sobre o erro de se construir a Ponte Estaiada na Marginal Pinheiros. Foram gastos na época pouco mais de 300 milhões. Já era um absurdo. Mas foi feito. Só nos resta imaginar um investimento de 1,3 bilhão em modernização do sistema de ônibus. Com novos corredores, vias exclusivas, semáforos inteligentes e terminais de conexão. Vamos sonhar com isso, Senhoras e Senhores, quando estivermos parados no trânsito desta e das próximas sextas feiras.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Reforma Política x Reforma Ética

Convido o Amigo leitor para um exercício de reflexão que explica uma boa parte dos escândalos envolvendo as diversas instâncias do poder público no Brasil e, de quebra, nos dá as alternativas possíveis para resolver estes impasses.

No caderno “Nacional” do Estado de São Paulo da última terça feira foram relacionadas algumas doações feitas ao PMDB por empresas da área de construção civil. Os recursos somam 3,25 milhões de reais.

A pergunta é: Por que? Por que empresas privadas tirariam de seus caixas uma soma tão vultosa (e essa é só a ponta do iceberg), para financiar as campanhas de candidatos do PMDB, partido que historicamente dá uma no cravo e outra na ferradura, leiloando seu apoio entre governo e oposição, sejam eles quem forem?

Será que seus dirigentes, imbuídos de espírito cívico decidiram apoiar os candidatos do PMDB por acreditarem nas suas propostas para áreas como educação, saúde e segurança? Por sua lisura e comprometimento com a coisa pública? Por suas trajetórias políticas impolutas? Por seu espírito cívico e ética incontestáveis?

Há algum tempo tenho tido contato com diversas pessoas ligadas ao teatro e tenho acompanhado suas dificuldades em conseguir recursos para viabilizar seus projetos junto a iniciativa privada. Mesmo com incentivos como a lei Rouanet ou o PAC ICMS que possibilitam a transferência de recursos destes tributos para financiar a cultura as empresas resistem a participar.

Exigem alta qualidade para os espetáculos e garantias de divulgação da sua marca. Nada a ver com cultura. Alguns chegam ao cúmulo de interferirem nas produções como se tivessem esse direito!. Um comportamento esperado de quem tem a responsabilidade de garantir lucros e zelar pela imagem das empresas que administram. E olhe só Amigo Leitor, esse dinheiro não sai do bolso deles! É dinheiro nosso que, ao invés de ir para os cofres públicos para depois ser distribuído aos solicitantes, vai direto para quem necessita dele, diminuindo a burocracia e facilitando a o desenvolvimento de projetos voltados para as realidades individuais de cada comunidade.

No entanto, ao financiar campanhas políticas, eles abrem os seus bolsos sem lamentos! Dão dinheiro aos borbotões para campanhas que muitas vezes naufragam ou para partidos sem representação nacional. Não é o caso do PMDB, é claro.

Agora vamos dar uma olhada no lado inverso. O que estas empresas conseguiram em contratos com o governo. Só com a Petrobrás, em 2008, firmaram contratos no valor de 3,25 BILHÕES DE REAIS !!!! Esta também é só a ponta do iceberg, uma vez que estas empresas estão entre as maiores construtoras do país com contratos que abrangem todo o território nacional.

Seria leviano sugerir que há uma relação direta entre os dois fatos. Mas é incontestável que há um claro conflito de interesses. Se as empresas que movimentam este volume de recursos podem fazer doações a candidatos e partidos quem garante à sociedade que estes não tenham interesses que conflitem com os interesses públicos?

Outra questão relevante é o fato de que empresas não votam! Eleitores votam! Se as empresas não votam porque teriam interesse em favorecer candidatos? Os candidatos são eleitos pelo povo para representá-lo no congresso. Se as empresas é que financiam as campanhas a quem o candidato deve lealdade? Aos que viabilizaram financeiramente a sua campanha ou aos eleitores que o colocaram lá? A resposta está no próprio legislativo.

Como candidatos que cospem na cara dos eleitores conseguem ano após ano a reeleição? È preciso transferir ao eleitor o controle efetivo sobre o seu voto. Não basta dar o voto na urna, é preciso que o eleitor se envolva e isso só é possível por meio da filiação aos partidos, o que daria origem aos recursos para as campanhas. Quem doa ao partido ou ao candidato vai cobrar o seu desempenho.

Mas se os partidos tem uma fonte inesgotável de recursos para financiar as suas campanhas quem vai ligar para os caraminguás dos eleitores? Os partidos não precisam deles!
A extinção deste tipo de expediente limitaria a influência de empresas nas decisões do legislativo e dificultaria sobremaneira a corrupção. É uma solução simples, eficaz e que não exige grandes modificações nas leis existentes.

Esse sim seria um começo para a reforma política. A questão, Senhoras e Senhores, é quem vai largar o osso primeiro.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Sobre Gestos e Intenções

Começou mais um capítulo da comédia, Senhoras e Senhores. O assunto agora é terceiro mandato. Já há deputados propondo esticar o mandato atual do presidente Lula até 2012, quando teríamos eleições gerais no Brasil. Essa é mais uma tentativa de "tirar o foco" das verdadeiras intenções de nossos nobres representantes.
Estão articulando a "reforma política" mais chinfrim que poderiam fazer. Voto em lista fechada e financiamento público das campanhas. Na prática estão sugerindo o seguinte: O eleitor, que é quem paga os impostos, deve dar o seu dinheiro para que os partidos façam campanhas para candidatos nos quais o eleitor, que é quem paga os impostos, não pode votar.
Olha que beleza Senhoras e Senhores! Enquanto estas negociações ocorrem nos bastidores a mídia dá atenção especial ao assunto do terceiro mandato. É uma proposta tão absurda que desvia o foco e faz parecer que a "reforma política" é um bom negócio. Coisas sérias como o voto distrital, fim da remuneração para vereadores e prefeitos de pequenas comunidades, fim do foro privilegiado, fim dos benefícios absurdos para deputados e senadores como auxilio moradia, uso de gráficas, engraxates, barbeiros, motoristas, passagens aéreas, nepotismo descarado e todos os demais absurdos que imperam na "casa do povo".
A renovação é algo que pode mudar a história do país. Mas precisa ser feita com urgência e com cuidado. Muitos dos que se candidatam ainda fazem parte dessa escola de política que tanto mal fez para o país.
Já há algum tempo os escândalos pipocam na grande imprensa nacional. Mas as manchetes já diminuem, nada foi feito para corrigir os problemas e os deputados e senadores envolvidos serão mais uma vez absolvidos pelo inabalável corporativismo do legislativo. Enquanto isso governo e oposição se debatem para poder roer o osso do mais novo foco dos holofotes da imprensa. A CPI da Petrobrás promete, ao longo dos próximos 360 dias (alguém duvida que haverá prorrogação do prazo?), ser o assunto da moda.
A oposição já pensa no tamanho do problema que arrumou para si. As suspeitas podem, como no caso mensalão, espirrar o esgoto para todos os lados, incluindo os próprios tucanos e democratas, responsáveis pela gestão da estatal antes da era Lula. Os esqueletos nos armários já começam a protestar pela explosão demográfica que está para acontecer. O Brasil precisa de reforma política Senhoras e Senhores. Mas antes precisa de um reformatório.