quarta-feira, 17 de junho de 2009

Propaganda Embutida

O Amigo Leitor que é usuário do Metrô ou da CPTM deve ter sido presenteado nos últimos dias com um "Mapa do Transporte Metropolitano", um folheto de 40 x 26 cm, dobrado para caber mais facilmente no bolso. Um mimo do governo do estado para os já cansados usuários do sistema de transporte sobre trilhos da capital.

Mas quando se abre o mapa o que encontramos? Mais de 50% do mapa traz informações sobre o plano de expansão! Exalta os feitos do governo e promete novos trens. De mapa mesmo só aquele que mostra as linhas de trem e metrô, presente em todas as estações e que não resolve absolutamente nada para quem não conhece a cidade! Horários de trens? Nem pensar! Linhas de ônibus? Nenhuma. Corredores? Nada. Pura propaganda.

A falta de respeito com o usuário agora afronta a nossa inteligência. O Governo do estado gasta dinheiro para fazer propaganda embutida onde conseguir! Mas o metrô continua cheio, os trens continuam em condições precárias e o transporte sobre roda está entregue as máfias de costume. A propaganda no entanto promete até 2010 uma revolução no transporte.

A falta de princípios no trato do dinheiro público não conhece limites. Menos propaganda e mais ações concretas. Isso sim, Senhoras e Senhores, seria uma revolução.



sexta-feira, 5 de junho de 2009

Política Intransitável

Tenho certeza de que o Amigo Leitor que é paulistano ou conhece a capital é profundo conhecedor dos incômodos que traz o trânsito de São Paulo àqueles que vivem na cidade. Só quem já enfrentou congestionamentos de 200 Km sabe o quanto é difícil, cansativo e desgastante a rotina do Paulistano.

Em pesquisas realizadas sobre qual seria a solução para o trânsito de São Paulo o metrô aparece sempre como a melhor alternativa. O plano do governo de São Paulo de dar qualidade de metrô às linhas dos trens metropolitanos é um indício de que esta percepção começa a encontrar os ouvidos dos que desenvolvem as políticas de transporte para a região metropolitana de São Paulo. Mas algo ainda continua a não fazer sentido.


Eu me lembro que alguns anos atrás, quando o Maluf ainda era candidato que preocupava os concorrentes, essa obra de duplicação das marginais do Rio Tietê era chamada de "Faraônica" pelos candidatos que concorriam as eleições. Que a solução estava no transporte público de qualidade e não na expansão da malha viária. Algo mudou radicalmente nestas posições.


Quem usa o sistema de transporte coletivo em São Paulo enfrenta ônibus desconfortáveis, com grandes intervalos e sem horários definidos. Sem contar os condutores que parecem treinados em um Rally Paris-Dakar, dirigindo de forma agressiva e brusca, trazendo ainda mais desconforto para o usuário. O Metrô continua cheio demais e o transporte alternativo continua nas mãos de máfias e cooperativas sem um mínimo de critério para contratar os condutores e sem fiscalização adequada.


Neste contexto cabe a nós questionar o governo estadual: Qual a justificativa para gastar 1,3 bilhões par aumentar uma via como a Marginal Tietê que, em função do crescimento vegetativo da frota de carros, estará completamente congestionada em 10 anos? O que isso resolve?


Uma das obras mais importantes em andamento para desafogar o trânsito de São Paulo é o Rodoanel. Continuamos aguardando o seu término após mais de 10 anos. Ainda não terminamos e vamos duplicar a Marginal? Não me parece fazer muito sentido.


A solução dos problemas de locomoção em São Paulo passa por uma mudança de paradigma na elaboração das políticas de transporte coletivo. Ou se toma de vez a decisão de concentrar os esforços em tirar os carros das ruas ou em alguns anos não haverá investimento público capaz de dar conta da expansão da frota.


Há 1 ano atrás eu escrevi neste mesmo espaço sobre o erro de se construir a Ponte Estaiada na Marginal Pinheiros. Foram gastos na época pouco mais de 300 milhões. Já era um absurdo. Mas foi feito. Só nos resta imaginar um investimento de 1,3 bilhão em modernização do sistema de ônibus. Com novos corredores, vias exclusivas, semáforos inteligentes e terminais de conexão. Vamos sonhar com isso, Senhoras e Senhores, quando estivermos parados no trânsito desta e das próximas sextas feiras.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Reforma Política x Reforma Ética

Convido o Amigo leitor para um exercício de reflexão que explica uma boa parte dos escândalos envolvendo as diversas instâncias do poder público no Brasil e, de quebra, nos dá as alternativas possíveis para resolver estes impasses.

No caderno “Nacional” do Estado de São Paulo da última terça feira foram relacionadas algumas doações feitas ao PMDB por empresas da área de construção civil. Os recursos somam 3,25 milhões de reais.

A pergunta é: Por que? Por que empresas privadas tirariam de seus caixas uma soma tão vultosa (e essa é só a ponta do iceberg), para financiar as campanhas de candidatos do PMDB, partido que historicamente dá uma no cravo e outra na ferradura, leiloando seu apoio entre governo e oposição, sejam eles quem forem?

Será que seus dirigentes, imbuídos de espírito cívico decidiram apoiar os candidatos do PMDB por acreditarem nas suas propostas para áreas como educação, saúde e segurança? Por sua lisura e comprometimento com a coisa pública? Por suas trajetórias políticas impolutas? Por seu espírito cívico e ética incontestáveis?

Há algum tempo tenho tido contato com diversas pessoas ligadas ao teatro e tenho acompanhado suas dificuldades em conseguir recursos para viabilizar seus projetos junto a iniciativa privada. Mesmo com incentivos como a lei Rouanet ou o PAC ICMS que possibilitam a transferência de recursos destes tributos para financiar a cultura as empresas resistem a participar.

Exigem alta qualidade para os espetáculos e garantias de divulgação da sua marca. Nada a ver com cultura. Alguns chegam ao cúmulo de interferirem nas produções como se tivessem esse direito!. Um comportamento esperado de quem tem a responsabilidade de garantir lucros e zelar pela imagem das empresas que administram. E olhe só Amigo Leitor, esse dinheiro não sai do bolso deles! É dinheiro nosso que, ao invés de ir para os cofres públicos para depois ser distribuído aos solicitantes, vai direto para quem necessita dele, diminuindo a burocracia e facilitando a o desenvolvimento de projetos voltados para as realidades individuais de cada comunidade.

No entanto, ao financiar campanhas políticas, eles abrem os seus bolsos sem lamentos! Dão dinheiro aos borbotões para campanhas que muitas vezes naufragam ou para partidos sem representação nacional. Não é o caso do PMDB, é claro.

Agora vamos dar uma olhada no lado inverso. O que estas empresas conseguiram em contratos com o governo. Só com a Petrobrás, em 2008, firmaram contratos no valor de 3,25 BILHÕES DE REAIS !!!! Esta também é só a ponta do iceberg, uma vez que estas empresas estão entre as maiores construtoras do país com contratos que abrangem todo o território nacional.

Seria leviano sugerir que há uma relação direta entre os dois fatos. Mas é incontestável que há um claro conflito de interesses. Se as empresas que movimentam este volume de recursos podem fazer doações a candidatos e partidos quem garante à sociedade que estes não tenham interesses que conflitem com os interesses públicos?

Outra questão relevante é o fato de que empresas não votam! Eleitores votam! Se as empresas não votam porque teriam interesse em favorecer candidatos? Os candidatos são eleitos pelo povo para representá-lo no congresso. Se as empresas é que financiam as campanhas a quem o candidato deve lealdade? Aos que viabilizaram financeiramente a sua campanha ou aos eleitores que o colocaram lá? A resposta está no próprio legislativo.

Como candidatos que cospem na cara dos eleitores conseguem ano após ano a reeleição? È preciso transferir ao eleitor o controle efetivo sobre o seu voto. Não basta dar o voto na urna, é preciso que o eleitor se envolva e isso só é possível por meio da filiação aos partidos, o que daria origem aos recursos para as campanhas. Quem doa ao partido ou ao candidato vai cobrar o seu desempenho.

Mas se os partidos tem uma fonte inesgotável de recursos para financiar as suas campanhas quem vai ligar para os caraminguás dos eleitores? Os partidos não precisam deles!
A extinção deste tipo de expediente limitaria a influência de empresas nas decisões do legislativo e dificultaria sobremaneira a corrupção. É uma solução simples, eficaz e que não exige grandes modificações nas leis existentes.

Esse sim seria um começo para a reforma política. A questão, Senhoras e Senhores, é quem vai largar o osso primeiro.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Sobre Gestos e Intenções

Começou mais um capítulo da comédia, Senhoras e Senhores. O assunto agora é terceiro mandato. Já há deputados propondo esticar o mandato atual do presidente Lula até 2012, quando teríamos eleições gerais no Brasil. Essa é mais uma tentativa de "tirar o foco" das verdadeiras intenções de nossos nobres representantes.
Estão articulando a "reforma política" mais chinfrim que poderiam fazer. Voto em lista fechada e financiamento público das campanhas. Na prática estão sugerindo o seguinte: O eleitor, que é quem paga os impostos, deve dar o seu dinheiro para que os partidos façam campanhas para candidatos nos quais o eleitor, que é quem paga os impostos, não pode votar.
Olha que beleza Senhoras e Senhores! Enquanto estas negociações ocorrem nos bastidores a mídia dá atenção especial ao assunto do terceiro mandato. É uma proposta tão absurda que desvia o foco e faz parecer que a "reforma política" é um bom negócio. Coisas sérias como o voto distrital, fim da remuneração para vereadores e prefeitos de pequenas comunidades, fim do foro privilegiado, fim dos benefícios absurdos para deputados e senadores como auxilio moradia, uso de gráficas, engraxates, barbeiros, motoristas, passagens aéreas, nepotismo descarado e todos os demais absurdos que imperam na "casa do povo".
A renovação é algo que pode mudar a história do país. Mas precisa ser feita com urgência e com cuidado. Muitos dos que se candidatam ainda fazem parte dessa escola de política que tanto mal fez para o país.
Já há algum tempo os escândalos pipocam na grande imprensa nacional. Mas as manchetes já diminuem, nada foi feito para corrigir os problemas e os deputados e senadores envolvidos serão mais uma vez absolvidos pelo inabalável corporativismo do legislativo. Enquanto isso governo e oposição se debatem para poder roer o osso do mais novo foco dos holofotes da imprensa. A CPI da Petrobrás promete, ao longo dos próximos 360 dias (alguém duvida que haverá prorrogação do prazo?), ser o assunto da moda.
A oposição já pensa no tamanho do problema que arrumou para si. As suspeitas podem, como no caso mensalão, espirrar o esgoto para todos os lados, incluindo os próprios tucanos e democratas, responsáveis pela gestão da estatal antes da era Lula. Os esqueletos nos armários já começam a protestar pela explosão demográfica que está para acontecer. O Brasil precisa de reforma política Senhoras e Senhores. Mas antes precisa de um reformatório.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Lista fechada. Mais uma caixa preta.

O Amigo Leitor já deve estar careca de ouvir dizer que o eleitor brasileiro tem memória curta e não acompanha o político no qual vota. Nem tem o hábito de se informar adequadamente sobre a vida política de seu candidato, o que torna fácil a eleição de candidatos fabricados, de história política duvidosa ou de flertes, quando não romances, com o crime e a falta de ética.

Este comportamento se deve não só a parca formação política do eleitor. Também a enorme distância que separa os candidatos dos seus eleitores serve aos que se candidatam com o único objetivo de se locupletar. A imensa maioria dos eleitores conhece o candidato apenas pelo “santinho” , quando muito.

É este distanciamento que permite as casas legislativas de todas as instâncias os desmandos que tem sido denunciados pela imprensa de todo o país. Desde castelos até pagamento de passagens aéreas para familiares e amigos com dinheiro público.

O congresso nacional passou agora a pouco por uma avaliação da Fundação Getúlio Vargas. Das mais de 150 diretorias (com diretores, secretárias e toda a infra estrutura que se puder “pendurar” nelas seriam necessárias apenas 7. Em toda a história da iniciativa privada nunca se viu um ”downsize” dessas proporções. O motivo é simples: Qualquer empresa que se permita um descalabro desses está fadada à extinção.

Não se trata aqui de defender um estado que se paute exclusivamente pelo lucro. O estado tem obrigação de atuar nos setores onde a iniciativa privada não tem interesse. Mas daí a rasgar dinheiro há uma distância considerável.

Agora o congresso começa a levantar a bandeira do financiamento público de campanha e a lista fechada de candidatos. O primeiro é um instrumento importante para impedir o controle de grupos milionários sobre os políticos. Uma vez que não se possa doar dinheiro aos candidatos a capacidade de corromper diminui. Além do benefício adicional de nivelar os candidatos em relação ao seu poder de exposição na mídia, valorizando mais as propostas em detrimento da imagem.

Mas implantar a lista fechada sob o argumento de “facilitar” a vida do eleitor para que não precise escolher entre milhares de candidatos é uma forma de alienar ainda mais do eleitor a possibilidade de escolher. Os partidos políticos no Brasil são instituições onde os atuais quadros do legislativo se originam. Dada a qualidade destes é no mínimo duvidoso que estas organizações venham a escolher os mais preparados e éticos.
Os quadros já não oferecem muita escolha para o eleitor informado, que busca saber o que seu candidato anda fazendo e tem condições de avaliar minimamente o desempenho de senadores e deputados. Imaginem se a partir de 2010 formos obrigados a votar no escuro? Vamos lembrar, senhoras e senhores: A noite todos os gatunos são pardos.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

O Último que sair desligue a luz.

Vivemos em uma sociedade que não liga, amigo leitor. Não ligamos para a miséria exposta nos jornais todos os dias. Não ligamos para o desespero das famílias desabrigadas pela chuva todo ano. Não ligamos para o péssimo desempenho das escolas públicas devido aos desmandos e falta absoluta de competência dos gestores da educação no país. Não ligamos para o aumento da violência entre nossos jovens, levados aos milhares. Não ligamos para a saúde pública com seus hospitais sem médicos ou equipamentos. Não ligamos para as universidades públicas que só atendem aqueles com cacife para pagar bons colégios e cursinhos. Não ligamos para o crescente desmatamento e exploração ilegal da Amazônia que a cada ano rasga nosso patrimônio natural seja em biodiversidade seja em madeira ilegal. Não ligamos para as polícias corruptas e despreparadas. Não ligamos para a impunidade de administradores colocados por nós pela enésima vez no comando da coisa pública. Não ligamos para as merendas extraviadas. Não ligamos para as obras superfaturadas que encheram os bolsos de grandes empreiteiros durante os últimos 50 anos. Não ligamos para um sistema judiciário lento, podre e desacreditado. Não ligamos para a poluição de nossos mananciais pela sujeira despejada nas ruas por nós mesmos e nos rios pelas empresas das quais compramos produtos. Não ligamos para interesses privados representados dentro do congresso nacional, a casa do povo. Não ligamos para o uso indevido do dinheiro público para compra de favores e castelos. Não ligamos para caixa dois de campanhas eleitorais. Não ligamos para o uso político de nossas instituições. Não ligamos para a absoluta falta de controle de entrada de armas no país por nossas fronteiras abandonadas. Não ligamos para uma política de incentivo a cultura que desvia dinheiro público para espetáculos que custam R$ 300,00 por lugar. Não ligamos para nosso patrimônio histórico abandonado. Não ligamos para o domínio do crime nas comunidades abandonadas pelo estado. Não ligamos para a prostituição infantil nem para a escravidão nos confins do país. As notícias saltam aos olhos diariamente nos jornais que lemos ou assistimos e tudo que conseguimos fazer é dizer "Que Absurdo"!

E quando um desses escolhidos por nós diz que se lixa para o que pensamos porque a imprensa os acusa e na outra eleição eles se reelegem nós ficamos indignados. Indignados com a falta de caráter e civismo desses incivilizados. Quais incivilizados, cara pálida? Nós sabemos de quem é a responsabilidade por isso tudo Senhoras e Senhores. E não é do Edmar.